Meu silêncio incomoda. Incomoda porque eu sempre tô pondo tudo pra fora, ou eu tô falando feito uma matraca velha ou eu tô escrevendo feito uma doida varrida ou cantando desafinado ou ensaiando um discurso de duzentas mil palavras na frente do espelho. Eu que só sei gritar pro mundo o quanto eu sou idiota, agora só quero ficar quietinha pensando no quanto eu sou idiota. Vou deixar de fazer tanto barulho. Parei pra conversar com a vida e a ordinária me deu uma lista cheia de opções para assinalar. Assinalei: Eu. Agora vou mudar. Eu vivo mudando, mas é que tenho coisa melhor pra fazer do que sair por aí avisando que eu estou de mudança. Quando vão perceber, já mudei e quem aguentar o tranco da minha metamorfose, traz limão que eu já tô com a dose de tequila. Sei lá. Ser demais, cansa. Vou ser de menos. Ser intensa demais, cansa. Vou desintensificar. Estou tirando umas férias de ser sempre muito pra nada. Umas férias de querer transformar rosas quase mortas em buquê de flores. Eu tenho esse dom, de sentir mais que o sentimento, mas agora parei. Não quero mais ser a retardada que sente mais que as sete bilhões de pessoas do mundo juntas, porque ser assim me custa. Eu que sempre quis ser tudo, não quero ser mais nada. Eu só quero paz, um pouquinho de paz. Não me leve a mal, mas é que de todas as opções que a vida nos dá, mudar é a mais interessante. Mudar é a única saída!
Anna Carolina Morato.
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