E eu ia remando o meu barquinho cheio de badulaque, toda formosa. E ia tudo bem. A maré estava tranquila. Meu corpo cheio de energia. Eu fui remando, remando. Remei sem parar, mas quando cheguei no meio do mar, eu já não tinha mais tanta energia. Remar estava exigindo muita força. Embora meu barquinho estivesse pesado, eu continuei. Continuei remando até me esgotar. Continuei até formar calos em todos os meus dedos e feridas na palma das minhas mãos. Chegou uma hora que eu não conseguia mais dar uma remada completa, nada. Então parei ali em mar aberto para descansar o corpo, fazer um curativo nos machucados enquanto pensava em como eu poderia continuar sem ter que me livrar dos meus badulaques. Eu já não tinha mais forças. O barquinho estava cheio. A tempestade estava próxima. Eu só tinha uma única solução: Jogar ao mar. Hesitei. Tinha que haver outra solução, pensei comigo. Fiquei ali em mar aberto com sol ou chuva. Eu sabia que precisava desapegar, eu só não tinha coragem. Eu olhei pra tudo aquilo e pensei: "Não vou jogar ao mar. Dá pra continuar sem ter que me desvincilhar. Eu sei que dá." Alguma coisa começou a dar errado quando eu vi que mesmo com o meu barquinho em estado de inércia, eu iria afundar. Foi então que eu percebi que não dá. Não dá para continuar a remar, muito menos chegar a praia sã e salva com um barquinho de tábua cheio de badulaques desnecessários. Eu tomei a decisão, uma das mais dolorosas: Jogar ao mar! E joguei. Joguei para as águas levarem tudo aquilo que não serve mais porque a vida é assim. É como um barquinho de tábua que você tem que remar e para não correr o risco de afundar antes de avistar a praia, você precisa jogar ao mar. Barquinhos de tábuas não suportam pesos desnecessários. Já posso voltar a remar...
Anna Carolina Morato.
Comentários
E ainda que tivesse que se jogar, abrir mão, escolher o que carregar, você teve forças para chegar ao limite.
Remamos sempre para termos forças de encarar ondas novas.
Está preparada... e reme sempre.