Ele era a única pessoa que me conhecia melhor do que eu mesma. Ele sabia que eu estava emburrada só pelo jeito como eu respondia suas mensagens. Estudava minha inquietação pelo tom da minha voz. Namorava o meu silêncio. Conhecia cada olhar, cada gesto, cada sorriso, cada tudo. Eu não precisava me diminuir pra ele não se assustar com o meu tamanho. Eu não precisava fingir alegria, porque ele sabia que eu estava triste. Eu não precisava de maquiagem, muito menos vestidos de grife. Ao lado dele, eu era só eu e as minhas olheiras e o meu mau - humor terrível. Ele era a única pessoa que eu não conseguia usar máscaras... eu me sentia eternamente à vontade. Ele sabia da minha loucura e ao invés de me internar em um hospício, se fez camisa de força. Sabia que minha pose de durona é só pra esconder o poço de sensibilidade ambulante que sou. Sabia que da minha tempestade e se fez calmaria. Conhecia o meu passado, o meu presente, quase meu futuro. Conhecia meus medos. Roubava minhas tristezas, me fazia esquecer o mundo, entende? Ele me ensinou a ver que os problemas não são tão complicados assim. Eu sou a complicada. Ele apontava os meus defeitos e eu insistia em dizer que me chamar de complicada era um grave equivoco da parte dele. Ele era meu porto seguro... Se alguma coisa acontecia, era para os braços dele que eu corria, mas agora não corro mais. Ele foi embora e foi poucas às vezes que eu disse que o amava, queria ter dito mais. Eu fiquei ali na praia, esperando ele voltar enquanto observava o mar despedir-se do sol. E as horas passaram, os dias passaram e ele não voltou. Desisto da ideia que ele voltará, mas ainda me pergunto: "Porque ele não levou a saudade?"
Anna Carolina Morato.
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