As pessoas me incomodam profundamente quando eu digo que sou gorda e elas me corrigem dizendo que "não, você não é gorda." Talvez as pessoas pensem que o fato de afirmar com todas as letras que eu sou gorda chega a ser uma afronta ou uma ofensa ao que sou. Não é. Estereótipos são cruéis e falhos. A sociedade mais ainda.
Eu levei anos para aceitar o meu corpo. Eu cresci ouvindo frases-navalhas que me cortaram por dentro e me fizeram sangrar por muitos anos. Eu tinha a autoestima minada e por anos acreditei que não merecia nada por ser gorda. Por anos, acreditei que ser gorda é algo ruim e que eu nunca seria amada por ser assim. E então, na fase da minha adolescência, eu tentei entrar no padrão. Eu fazia dieta, fazia três horas de academia, nutrólogo, terapia. Tudo quanto é coisa que me fizesse ser magra. Claro que emagreci e cheguei a me encaixar um pouco no tão "almejado" padrão. Todavia, alguma coisa deu errado porque eu percebi que todos os meninos que eu era afim, começaram a se interessar por mim (na verdade, pelo meu corpo) e assim provei mais um pouco do quão cruel isso pode ser.
Eu estava extremamente neurótica por ter um corpo bonito. Mas, chegou um momento em que cansei e abandonei tudo. A revolução começou quando eu entrei na universidade e percebi que há muito mais a oferecer do que um corpo bonito e então, eu parei de me importar tanto em corpo e comecei a focar no meu conhecimento e crescimento profissional.
A revolução estava só começando, mesmo a passos curtos e lentos. Amor próprio e autoestima são duas coisas que se constrói diariamente e não é nada nada linear. Precisei de anos para chegar a um nível de maturidade e empoderamento.
Hoje, eu me aceito e cuido bem mais do meu corpo e da minha mente considerando a minha a cansativa e desgastante jornada de trabalho. Me cuido por amor. Por carinho. Por respeito a mim e a esse corpo que carrega as minhas marcas e as minhas histórias.
Ser gorda não é doença e muito menos defeito. É questão de genética e/ou coisa do tipo. Enfim, onde eu quero chegar é que não importa como você é, o que importa é o que faz com isso. Sou gorda sim, uso 44, levo um tempo significativo para achar roupas legais, mas nada disso não me impede de me amar, me cuidar, me valorizar e viver trabalhada no salto alto, no batom forte e na estica. ❤
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